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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Produção Textual - 2001 (Resenha)

Na resenha crítica, os oito passos a seguir formam um guia ideal para uma produção completa:
1. Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;
2. Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;
3. Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;
4. Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize de 3 a 5 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;
5. Analise de forma crítica: Nessa parte, e apenas nessa parte, você vai dar sua opinião. Argumente baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações ou até mesmo utilizando-se de explicações que foram dadas em aula. É difícil encontrarmos resenhas que utilizam mais de 3 parágrafos para isso, porém não há um limite estabelecido. Dê asas ao seu senso crítico.
6. Recomende a obra: Você já leu, já resumiu e já deu sua opinião, agora é hora de analisar para quem o texto realmente é útil (se for útil para alguém). Utilize elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.
7. Identifique o autor: Cuidado! Aqui você fala quem é o autor da obra que foi resenhada e não do autor da resenha (no caso, você). Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do escritor ou pesquisador.
8.  Assine e identifique-se: Agora sim. No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”

Produção Textual - 3002

Texto 2
Onde não há pensamento a longo prazo, dificilmente pode haver um senso de destino compartilhado, um sentimento de irmandade, um impulso de cerrar fileiras, ficar ombro a ombro ou marchar no mesmo passo. A solidariedade tem pouca chance de brotar e fincar raízes. Os relacionamentos destacam-se sobretudo pela fragilidade e pela superficialidade.
Z. Bauman. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Adaptado.

Texto 3
A cultura do sacrifício está morta. Deixamos de nos reconhecer na obrigação de viver em nome de qualquer coisa que não nós mesmos.
G. Lipovetsky, cit. por Z. Bauman, em A arte da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

Produção Textual - 3002


"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!" (Frei Betto)

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: ‘Qual dos dois modelo produz felicidade?’

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: ‘Não foi à aula?’ Ela respondeu: ‘Não, tenho aula à tarde’. Comemorei: ‘Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde’. ‘Não’, retrucou ela, ‘tenho tanta coisa de manhã…’. ‘Que tanta coisa?’, perguntei. ‘Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina’, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: ‘Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: ‘Como estava o de
funto?’. ‘Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!’ Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual.. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi¬nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais…
A palavra hoje é ‘entretenimento’. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: ‘Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!’ O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba¬ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas…
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno… Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: ‘Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: ‘Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!”


FREI BETTO - BIOGRAFIA:

 
Frei Betto O.P., (Belo Horizonte, 25 de agosto de 1944) é um escritor e religioso dominicano brasileiro, filho do jornalista Antônio Carlos Vieira Christo e da escritora e culinarista Maria Stella Libanio Christo, autora do clássico "Fogão de Lenha - 300 anos de cozinha mineira" (Garamond).
Professou na Ordem Dominicana, em 10 de fevereiro de 1966, em São Paulo.
Adepto da Teologia da Libertação, é militante de movimentos pastorais e sociais, tendo ocupado a função de assessor especial de Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República, entre 2003 e 2010. Frei Betto, foi coordenador de Mobilização Social do programa Fome Zero.


Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar: em 1964, por 15 dias; e entre 1969-1973. Após cumprir 4 anos de prisão, teve sua sentença reduzida pelo STF para 2 anos. Sua experiência na prisão está relatada no livro "Cartas da Prisão" (Agir), "Diário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco) e Batismo de Sangue (Rocco), traduzido na França e na Itália. O livro descreve os bastidores do regime militar, a participação dos frades dominicanos na resistência à ditadura, a morte de Carlos Marighella e as torturas sofridas por Frei Tito. O livro foi transposto para o cinema em filme homônimo, lançado em 2006 e dirigido por Helvecio Ratton.
Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Assessorou vários governos socialistas, em especial Cuba, nas relações Igreja Católica-Estado.





sábado, 4 de junho de 2011

São minhas também as saudades da Panair

A Panair foi uma empresa de aviação comercial pioneira no Brasil. Sua história se inicia nos anos 30 do século passado, quando ainda se chamava NYRBA. Foi rapidamente incorporada pela Pan Am e posteriormente nacionalizada. A empresa, ao longo de seus 35 anos de existência, angariou elogios internacionais e comemorou louros incontestáveis. Sua falência foi decretada em 11 de fevereiro de 1965, envolta numa atmosfera de mistérios políticos e supostas dívidas. Um dos dirigentes atuais da empresa que funciona no papel afirma que seu pai, antigo diretor-presidente da Panair, era amigo de JK e sofreu represálias do governo de Castello Branco, a ponto de ter de se exilar na Europa com sua família. O caso da Panair, que é intrigante e misterioso, deixou marcas indeléveis nos seus funcionários, que tinham com a empresa não apenas uma relação empregatícia, mas de amor, tanto que, mesmo quarenta anos depois da falência, se reúnem para comemorar e relembrar as histórias da companhia. Esses funcionários formam uma confraria a que chamam Família Panair e sonham, até hoje, ver a agência voltando à ativa.
Essa é a história da Pan Air. Não faço parte dela... ou pelo menos não fazia, até ouvir pela primeira vez a música “SAUDADE DOS AVIÕES DA PANAIR (CONVERSANDO NUM BAR)” de Milton e Brant. Ao primeiro contato com a música, fiquei apaixonado. Aliás, difícil não se apaixonar pelas músicas interpretadas pelo Milton. Assim que ouvi, sem internet, fui perguntar aos meus pais que empresa era a Pan Air. A resposta obtida foi certeira: ah, era uma companhia aérea grande, todo mundo queria voar nela! Ué, mãe, por que acabou? Sei lá... abriu falência e fechou. Faliu. O imaginário que se formou em torno da empresa é de que era uma companhia promissora, rica e respeitável e que faliu inexplicavelmente.
A impressão que tive quando ouvi a canção pela primeira vez e, depois, nas outras vezes que ouvi é a de que esse saudosismo que reverberava na voz de minha mãe, provavelmente, também reverberava na voz de outras pessoas que viveram aquela época.
Gozada é a literatura. Nunca havia sequer suposto uma agência de nome Pan Air, eu, filho dos fins dos anos 70. Mas a saudade que eu senti quando ouvi “Saudades dos aviões da Pan Air” foi legítima e intensa. Vai entender...
A letra parte do particular para o geral de forma dinâmica e bela. As saudades, antes dos aviões da Pan Air, transformam-se em Saudade, substantivo próprio. Esse ente paradoxalmente “pertencedor” e pertencido. O compositor Fernando Brant, que assina a letra da canção, vai fazendo nostálgicas associações a partir das saudades da Pan Air e da infância. As associações e lembranças supostamente vão surgindo docemente em volta da mesa de um bar, numa conversa de amigos. Lá está o passado: o bonde, o motorneiro, o doce na boca dos moleques, a 2ª Guerra, a primeira Coca-Cola.
Na verdade, a saudade está presente em praticamente todos os álbuns de Milton na época do famoso Clube da Esquina. O passado ecoa em várias canções desse mesmo álbum, como em “Ponta de Areia” e “Paula e Bebeto”. Ou ainda em canções de outros álbuns, como “Clube da Esquina”, “Paixão e Fé” e “Bola de Meia, Bola de Gude”.
Talvez utilizassem a saudade como um recurso de denúncia por meio da evasão do tempo em que viviam, o ano de 1975, anos de chumbo da ditadura e data de lançamento do histórico álbum “Minas”. A dolorosa realidade vivida pelos artistas era violentamente negada e substituída por um passado inocente. Reviver o passado era sobretudo a sua arma contra a dura realidade política do Brasil de então: “Descobri que a minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Pan Air”. E mais: não é por mera coincidência que Brant utiliza a Pan Air como símbolo de um passado brasileiro idealizado. Ele não associa esse passado apenas à sua infância, mas aos anos anteriores à falência da Companhia, a qual se dá um ano depois da “Revolução”.
Independente da questão política suscitada pela contextualização da música – aliás, maravilhosamente arranjada por Wagner Tiso -, o que fica dessa canção é justamente a saudade, essa palavra nossa porque tão portuguesa e tão africanamente reforçada pelo banzo ioruba e ressignificada pelos mineiros na interpretação do grande Milton Nascimento.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

1º ano- Trovadorismo, Humanismo e Classicismo (Vídeo)

Galera, segue um vídeo sobre Trovadorismo, Humanismo e Classicismo. Espero que sirva para tirar algumas dúvidas (ou que sirva para colocar algumas também, pois sempre é bom!).
Abraço do tio.


quarta-feira, 11 de maio de 2011

1º ano - Trovadorismo

Galera, como a aula sobre Trovadorismo foi muito produtiva, segue a apresentação dos slides para todas as turmas.Abraço do tio.Trovadorismo
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Pedido

Atenção, todas as turmas!
Precisamos colocar os nossos blogs em dia. Postem músicas, fotos, figuras, tirinhas, piadas, contos e poemas dos quais vocês gostam. Precisamos manter sempre os blogs atualizados, pois ainda que não acreditem eles são eventualmente visitados.

De lambuja vai uma figura do artista Escher. É um artista plástico que mistura Arte e Matemática.
Vai um tabalhinho: copiem esta figura, colem-na no blog de vocês (cada turma) e façam um breve resumo da biografia desse artista. Nos comentários, eu gostaria que vocês postassem apreciações e análises sobre a obra.



Forte abraço do tio.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

2º ano - As três gerações românticas no Brasil

Galera, estes são os slides utilizados na minha aula sobre as três gerações do Romantismo no Brasil. Se vocês clicarem no link, é possível baixar o arquivo. Bom estudo e abração do tio.Gerações românticas no Brasil: Poesia
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quarta-feira, 6 de abril de 2011

3º ano - Modernismo no Brasil.

Rapaziada, não costumo postar o que não é meu sem dar referências. Quando decidi colocar este texto aqui, já tinha fechado a página. De qualquer forma, acho que não serei crucificado por apenas um texto.
Leiam, vale a pena dar uma conferida. É basicamente um resumo do que tenho falado nas aulas sobre Modernismo.
Bom estudo.




A historiografia literária brasileira costuma dividir em três fases o Modernismo brasileiro. Os marcos cronológicos da primeira fase, também conhecida como "heróica", são o ano de 1922, quando realizou-se a Semana de Arte Moderna em São Paulo, e o ano de 1930, quando ocorreu a publicação de Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, dando início a um novo período. No entanto, bem antes de 1922 os artistas participantes da Semana já produziam obras influenciadas pelas novas correntes européias, que debatiam e divulgavam pela imprensa. Assim, a realização da Semana de 22 apenas reuniu e apresentou a um público bastante restrito – e escandalizado – alguns dos artistas paulistas e cariocas que já vinham cultivando modernas formas de expressão. Entre eles estavam os escritores Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho e Menotti del Picchia, além de Graça Aranha, na época autor consagrado e membro da Academia Brasileira de Letras, que usou seu prestígio para apresentar os jovens modernistas. Também participaram da Semana o músico Villa-Lobos, a pintora Anita Malfatti e o escultor Victor Brecheret, entre outros.
Segundo Alfredo Bosi, "a Semana foi, ao mesmo tempo, o ponto de encontro das várias tendências que desde a I Guerra vinham se firmando em São Paulo e no Rio, e a plataforma que permitiu a consolidação de grupos, a publicação de livros, revistas e manifestos, numa palavra, o seu desdobrar-se em viva realidade cultural." A necessidade de consolidar a nova estética, de definir seus rumos, de romper com os padrões literários do passado conferiu ao Modernismo da primeira fase um alto grau de radicalismo. Mário de Andrade afirmou, a respeito da violência com que se processou a ruptura com o passado: "(...) se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista. Isto é, o seu sentido verdadeiramente específico. Porque, embora lançando inúmeros processos e idéias novas, o movimento modernista foi essencialmente destruidor.".
A "destruição" tinha como objetivo, em um primeiro momento, o rompimento com estéticas passadas, especialmente a parnasiana. A figura do poeta parnasiano, comparado a uma "máquina de fazer versos" no "Manifesto Antropófago" (1928) de Oswald de Andrade, foi ridicularizada e atacada em inúmeros artigos e poemas, como Os Sapos, de Manuel Bandeira, recitado por Ronald de Carvalho na segunda noite da Semana de Arte Moderna. Em oposição ao rigor gramatical e ao preciosismo lingüístico parnasianos, os poetas modernistas valorizaram a incorporação de gírias e de sintaxe irregular, e a aproximação da linguagem oral de vários segmentos da sociedade brasileira, como se pode observar no poema Pronominais, de Oswald de Andrade. Ainda no plano formal, o verso livre, a concisão e a objetividade são características marcantes do movimento. No poema de Manuel Bandeira, Poética, estão expressas as principais "palavras de ordem" da estética modernista.
Outros objetivos do "espírito destruidor" modernista eram a preparação de um terreno onde se pudesse reconstruir a a cultura brasileira, sobre bases nacionais; a realização de uma revisão crítica da história e das tradições culturais do país; a eliminação do "complexo de colonizados" que tornava os brasileiros apegados a valores estrangeiros. A tentativa de revisão crítica e de reconstrução da cultura brasileira demandou a pesquisa e a abordagem poética de fontes quinhentistas, como a Carta de Pero Vaz de Caminha. No poema As Meninas da Gare, por exemplo, Oswald de Andrade utiliza trechos da Carta que, deslocados de seu contexto original, remetem a problemas sociais do Brasil moderno. O enfoque de temas do cotidiano também permitiu a reflexão sobre a realidade brasileira, geralmente pontuada pelo uso do humor, como ocorre em inúmeros poemas de Manuel Bandeira.
Além disso, segundo Antonio Candido, os modernistas "passaram por cima das distinções entre os gêneros, injetando poesia e insólito na narrativa em prosa, abandonando as formas poéticas regulares, misturando documento e fantasia, lógica e absurdo, recorrendo ao primitivismo do folclore e ao português deformado dos imigrantes, chegando a usar como exemplo extremo contra a linguagem oficial certas ordenações sintáticas tomadas a línguas indígenas". Os autores do Modernismo procuraram no índio e no negro o primitivismo, os elementos primordiais da cultura brasileira que proporcionariam a reconstrução da realidade nacional, e procuraram retratar a mistura de culturas e raças existente no país. O poema Cobra-Norato, de Raul Bopp, talvez seja o mais significativo exemplo da exploração poética do primitivismo.
O nacionalismo, talvez a mais marcante característica do Modernismo, separou ideologicamente os adeptos do movimento. Oswald de Andrade lançou, em 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, que enfatizava a criação de uma poesia baseada na revisão crítica de nosso passado histórico e na valorização da pluralidade cultural brasileira. Menotti del Picchia, Plínio Salgado e Cassiano Ricardo reagiram com o movimento Verde-Amarelismo, que propunha uma nacionalismo mais ufanista, de inclinação nazi-fascista; em 1927, o grupo se transformou na Escola da Anta, tomando como símbolos de nacionalidade o índio tupi e a anta. No ano seguinte, Oswald, Raul Bopp e Tarsila do Amaral revidam o nacionalismo xenofobista da Anta com o Manifesto Antropófago, que incorporava o comunismo, o freudismo e o matriarcalismo, e pretendia "devorar" as influências estrangeiras, aproveitando suas inovações artísticas, mas imprimindo a identidade cultural brasileira à arte e à literatura.